


AS NOSSAS HISTÓRIAS AINDA PRECISAM CONTINUAR AQUI
Entre outubro de 2024 e junho de 2025, foi iniciado e concluído o processo de venda, por parte do Governo de São Paulo, do terreno do antigo Presídio do Hipódromo, território histórico da cidade de São Paulo e da própria nação pelo fato do seu uso como equipamento de aprisionamento, de tortura e de violações a Direitos Humanos cometidos pela Ditadura Civil-Militar contra militantes antagônicos ao regime.
Pelas cruéis celas desse cárcere passaram centenas de presos políticos, mas não só, também presos comuns, alvos habituais de diversas violações. Entre os alvos da perseguição política aprisionados no Hipódromo constam os ex-deputados José Genoino e Adriano Diogo, bem como os ex-ministros Nilmário Miranda e Eleonora Menicucci. Diante do sadismo autoritário daqueles que dirigiam as instalações e, inclusive, montavam e operacionalizavam esquadrões da morte, até mesmo Rita Lee, grávida, foi aprisionada ali.
O Presídio do Hipódromo é reconhecido pelo Memorial da Resistência como “Aparato Repressivo – Presídio Político” e, após 1972, tornou-se destino de perseguidos políticos da Ditadura. Ali, presos políticos e “comuns”, entre eles prostitutas e travestis, também alvos preferenciais da repressão, sofreram com superlotação, fome, torturas, violências sexuais e a brutalidade de um Estado que tentou calar a dissidência e higienizar os indesejáveis. É um lugar de memória, e é por isso que não pode ser apagado.
A importância do Hipódromo transcende os seus muros: o edifício foi apropriado pela cultura e pela arte, virou cenário do videoclipe “Humanos” (Tokyo, 1986), do espetáculo “Apocalipse 1,11” (Teatro da Vertigem, 2000), de novelas televisivas e do filme “Carandiru” (2002) e de “O Beijo da Mulher-Aranha” (1985), obra reconhecida internacionalmente e indicada ao Óscar. Preservar o Hipódromo é também proteger a nossa memória audiovisual e as narrativas que mantêm viva a lembrança dos que resistiram.
Mesmo assim, o Governo do Estado transferiu o imóvel ao FIISP – Fundo de Investimento Imobiliário de São Paulo no fim de outubro de 2024 e, em 02 de junho de 2025, a Singulare Corretora tornou-se proprietária. Vendido por R$11,1 milhões, o terreno de cerca de 4,4 mil m² foi alienado muito abaixo do valor de mercado estimado entre R$25,2 e R$27,8 milhões. A operação, além de imoral e anti-econômica, afronta o dever constitucional de proteger o patrimônio histórico-cultural.
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Assim sendo, não pedimos um favor: exigimos o cumprimento da Constituição. O art. 216 da CF/88 impõe ao Poder Público promover e proteger o patrimônio cultural. Não há discricionariedade para apagar a memória.
Manifestamos-nos, portanto, pelo tombamento definitivo do antigo Presídio do Hipódromo pelo CONDEPHAAT, com destinação exclusiva a memorial público e centro de referência sobre o sistema repressivo, com acesso universal, política educativa e acolhimento às vítimas e seus familiares.
E o mais importante: convocamos: sobreviventes, familiares, entidades de direitos humanos, movimentos de cultura e memória, estudantes, artistas, moradores e toda a sociedade civil a assinar este manifesto.
Reafirmamos: não se trata apenas de um prédio, trata-se do direito à memória, à verdade e à justiça. Cada tijolo do Hipódromo carrega nomes, vozes e lutas que ainda precisam continuar aqui para que nunca mais se repitam a tortura, o silenciamento, a violência contra os pobres, negros, travestis, prostitutas e dissidentes políticos.
NOSSA MEMÓRIA NÃO TEM PREÇO E NÃO ESTÁ À VENDA!
São Paulo, setembro de 2025.
APOIAM O TOMBAMENTO E A MEMÓRIA

MEMÓRIAS APAGADAS Prédio do Presídio do Hipódromo, cárcere político usado na ditadura militar, é vendido pelo governo de São Paulo por menos de 50% do preço de mercado. O local foi usado na gravação do premiado filme brasileiro,“O Beijo da Mulher Aranha”.
Em 2024, o terreno do antigo presídio de 4,4 mil metros quadrados foi integralizado por fundo de investimento operado pela Veritas Capital no valor de R$11,1 milhões, menos da metade do valor de mercado avaliado por volta de R$27 milhões. O prédio, situado na Rua do Hipódromo, no bairro do Brás, na capital paulista, é considerado um marco histórico do país pelo seu uso como aparato repressor da ditadura militar e em produções que marcaram o audiovisual brasileiro.
A venda do imóvel, que chegou a abrigar presos famosos como José Genoino e Rita Lee, faz parte da política do governo estadual de dispensar áreas subutilizadas. “Não dá para ficar se apegando à área, patrimônio. Isso é uma lógica meio patrimonialista”, disse o governador Tarcísio de Freitas em entrevista ao G1, em outubro, ao defender a venda de parte de uma fazenda histórica em Campinas.
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